Assim, naquela casa concebeu-se um aborto como forma de livrar-se de um bebê concebido, mas ainda em forma de feto. Em poucos dias ela estava livre da maternidade indesejada; ele, da paternidade. Peitaram a Igreja. Se estavam em paz, foi outro capítulo da mesma história.
Fizeram-me lembrar aquela tribo de quase civilizados, cujos anciãos quase sábios, decretaram que preservariam a vida de quem já tivesse nascido, mas não a de quem estivesse por nascer ou por morrer. Assim, um decreto determinou-se que fossem mortos os homens e mulheres que matassem um bebê, a menos que ele tivesse vindo com algum grave defeito. Neste caso, seria um peso para a aldeia. Podia-se abortar, desde que os sábios decretassem que aquela gravidez fosse muito sofrida. O bebê nascido era intocável, a menos que nascesse com defeito. Os anciãos, se não servissem mais para nada, poderiam ser mortos. Aborto e eutanásia eram garantia de liberdade e progresso. Não queriam saber de nenhum peso morto.
Os critérios eram a utilidade ou inutilidade e o incômodo que aquela vida traria para os pais ou para a tribo, se os anciãos poderiam comer, beber e dormir sem ajuda de terceiros, ou se consumissem demasiado tempo, medicina e alimento. Não consideravam crime apressar a morte de um velhinho inútil, a de um enfermo irrecuperável, ou a de um feto indesejado.
Na pragmática aldeia tudo passava pela norma da mais valia. Para conforto espiritual de todos, os seus feiticeiros e sacerdotes decretaram que o ser humano veio a este mundo para ser feliz e alcançar o sucesso pessoal. Tudo o que prejudicasse o indivíduo ou o progresso da pequena aldeia deveria ser eliminado. Assim, por voto quase unânime, decretaram que a compaixão não era uma virtude. Adivinhem o nome da aldeia...
30/05/2010
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